Saiba como funciona o processo de doação de órgãos

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Mais de 41 mil pessoas estão na fila de espera aguardando por um transplante de órgão, seja ele de rim, coração, pulmão, fígado, pâncreas, córnea, pele, ossos ou tendões.

Apesar do intenso debate envolvendo o assunto, ainda existem entre a população diversas dúvidas sobre como funciona o procedimento.

No Dia Nacional de Doação de Órgãos, comemorado em 27 de setembro, o site Coração & Vida mostra o caminho, que tem início com o cadastro dos receptores.

Os pacientes da fila de transplantes são classificados de acordo com grupo sanguíneo, peso, idade e altura do doador, segundo informações da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo. Outro fator levado em consideração é o tempo de espera: quem chegou primeiro e tem compatibilidade com o doador, recebe o órgão.

A retirada de órgãos e tecidos de pessoas falecidas só é realizada quando há a constatação de morte encefálica do paciente por dois médicos, além de autorização do parente mais próximo. As condições são estipuladas em lei e nenhum hospital pode fazer o procedimento sem obedecer aos critérios relacionados.

Em São Paulo, estado que responde pela metade das cirurgias deste tipo feitas no país, o Sistema Estadual de Transplantes da Secretaria de Saúde coordena o processo de distribuição de órgãos coletados nos hospitais, tanto públicos como privados.

O sistema faz a busca por doadores com base em critérios de compatibilidade com quem aguarda o transplante. A ideia é que o transplante seja eficaz e justifique todo o recurso despendido nesse processo.

A Central de Transplantes de São Paulo já realizou mais de 107 mil transplantes, entre os de órgãos e de córneas.

O cardiologista Roberto Kalil Filho, diretor no Instituto do Coração (InCor) e no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, destacou a importância das campanhas de conscientização familiar para a autorização da retirada dos órgãos após a morte cerebral do ente querido.

“Há doadores, mas precisamos de mais. Os números aumentam a esperança daqueles que aguardam por um novo órgão.”

Confira a seguir algumas dúvidas mais frequentes sobre a doação de órgãos:

Quem pode e quem não pode ser doador de órgãos e tecidos?

Todos podemos ser doadores de órgãos desde que não sejamos portadores de doenças transmissíveis (Aids, por exemplo), de infecções graves e de câncer generalizado. Não podem ser doadores as pessoas com doenças infecciosas incuráveis e câncer generalizado, ou ainda as pessoas com doenças, que pela sua evolução, tenham comprometido o estado dos órgãos. Também estão excluídos do direito de doar as pessoas sem identidade, ou menores de 21 anos sem a autorização dos responsáveis.

Quais as partes do corpo que podem ser doadas para transplante?

As mais frequentes são rins, pulmões, coração, fígado e córneas. As menos frequentes, rim e pâncreas juntos. Fora do Brasil também são feitos transplantes de estômago e intestino. É possível também transplantar pele e ossos, e até mesmo uma parte completa, como a mão.

Existe limite de idade para ser doador ou receptor?

O que determina o uso de partes do corpo para transplante é o seu estado de saúde. Em geral, aceita-se os seguintes limites, em anos: rim (75), fígado (70), coração e pulmão (55), pâncreas (50), válvulas cardíacas (65), córneas (sem limite), pele e ossos (65).

Eu quero ser doador(a). O que devo fazer?

A atitude mais importante é comunicar à família e aos amigos este desejo, pois pela legislação atual todos nós podemos ser doadores, desde que a família autorize a retirada dos órgãos. Por isso, é muito importante que seus amigos e familiares saibam da sua opção de doar. Use um símbolo (um selo de doador, por exemplo) que indique claramente esta opção em seu documento de identidade.

Quando podemos doar?

A doação de rim, medula óssea ou parte do fígado pode ser feita em vida. Mas em geral nos tornamos doadores quando ocorre a morte encefálica. Tipicamente ocorre morte encefálica em pessoas que sofreram um acidente que provocou um dano na cabeça (acidente com carro, moto, quedas, etc.) e continuam com seus outros órgãos em bom estado de funcionamento.

A morte encefálica pode ser diagnosticada em qualquer hospital?

Depende, o exame clínico por neurologista é habitualmente feito em todos os hospitais, contudo nem sempre há disponibilidade para exame complementar de eletroencefalograma ou angiografia cerebral conforme a lei exige, o que requer participação de outro hospital.

Há chance de os médicos errarem no diagnóstico de morte encefálica?

Não. Se for seguido o protocolo, que está muito bem documentado.

Quem retira os órgãos de um doador?

Desde que haja um receptor compatível, a retirada dos órgãos para transplante é realizada em um centro cirúrgico, por uma equipe com treinamento específico para este tipo de procedimento. Depois disso, o corpo é devidamente recomposto e liberado para os familiares.

Como fazer para um familiar falecido se tornar doador?

Um dos membros da família pode manifestar o desejo de doar os órgãos ao médico que atendeu o familiar, ou à administração do hospital, ou ainda entrar em contato com uma Central de Transplantes que tomará as providências necessárias. Se a sua família quer mesmo adotar esta atitude de doação, aconselha-se que insista com a equipe médica do hospital para que as providências sejam tomadas.

Se for tomada a decisão de doar os órgãos de um familiar, quanto isso vai custar?

A família de um potencial doador não paga pelos procedimentos de sua doação. Existem coberturas do SUS para este procedimento. A maioria dos planos privados de saúde não cobre este tipo de procedimento.

Tenho um familiar em lista de espera por um transplante. Sou compatível com ele. Se eu morrer, posso ser o seu doador?

Não. Os familiares do falecido não podem escolher ser receptor. O receptor será sempre indicado pela Central de Transplantes com base apenas em critérios de compatibilidade e de urgência do procedimento.

Como sei se um familiar ou amigo pode doar para mim?

Se você precisa de um rim, medula óssea ou parte do fígado, um familiar ou amigo pode ser doador em vida. Antes da doação, no entanto, eles devem ser submetidos a uma bateria de exames de compatibilidade, sempre sob a orientação de médicos, para determinar esta possibilidade.

Uma pessoa é doadora e vem a falecer. Se quando chegar ao hospital não encontram seus documentos, nem os seus familiares, seus órgãos podem ser retirados para transplantes?

Não. Pessoas sem identidade, indigentes e menores de 21 anos, sem autorização dos responsáveis, não são consideradas doadoras.

Quem faz transplante no Brasil?

Segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos, existem no Brasil cerca de 400 equipes médicas cadastradas para realizar transplantes de órgãos.

Como funciona o sistema de captação de órgãos?

Se existe um doador em potencial (vítima de acidente com traumatismo craniano, derrame cerebral, etc., com autorização da família para que ocorra a retirada dos órgãos), a função vital dos órgãos deve ser mantida. É realizado o diagnóstico de morte encefálica. Seguem-se então as seguintes ações:

– O hospital notifica a Central de Transplantes sobre um paciente com morte encefálica (potencial doador);

– A Central de Transplantes pede confirmação do diagnóstico de morte encefálica e inicia os testes de compatibilidade entre o potencial doador e os potenciais receptores em lista de espera. Quando existe mais de um receptor compatível, a decisão de quem receberá o órgão passa por critérios tais como tempo de espera e urgência do procedimento;

– A Central de Transplantes emite uma lista de potenciais receptores para cada órgão e comunica aos hospitais (Equipes de Transplante) onde eles são atendidos;

– As Equipes de Transplante, junto com a Central de Transplante, adotam as medidas necessárias para viabilizar a retirada dos órgãos (meio de transporte, cirurgiões, pessoal de apoio, etc.);

– Os órgãos são retirados e o transplante realizado.

Revisão técnica

  • Por Thassio Borges
  • Prof. Dr. Max Grinberg
  • Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
  • Autor do blog Bioamigo

Fonte: site Coração e Vida, produzido com a curadoria do cardiologista Dr. Roberto Kalil Filho.

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