Carboidrato: herói ou vilão?

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Acha que a história de que carboidrato dá barriga é exagero? Ledo engano. Alimentos que contêm carboidratos podem, sim, favorecer o acúmulo de gordura na região abdominal. Para entender melhor sobre o assunto, o Coração & Vida buscou a ajuda de duas especialistas, que detalham o mecanismo de absorção e uso da energia daquele pão francês pelo nosso corpo.

A nutróloga Letícia Fontes, membro da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), explica que os carboidratos, se consumidos em excesso, levam ao acúmulo de gordura no abdômen. Quando se come um carboidrato, ele é transformado em glicose (açúcar) na hora da absorção, e cai na corrente sanguínea.

“O efeito da glicose no nosso corpo é promover energia celular. Sempre que ela está circulando no sangue, a insulina é acionada para pegar essa glicose e colocar dentro das células, pois assim o açúcar será convertido em energia”, diz Letícia.

Dentro dos padrões normais, essa energia será usada pelo organismo nas atividades diárias. Se a ingestão de carboidrato for maior do que a necessidade da célula no momento, o corpo resolve guardá-la para usar no futuro. Para isso, aciona novamente a insulina, que recolhe essa energia e armazena de uma forma que provoca pesadelos em muitos: em triglicerídeos, ou, popularmente, gordura.

Mas por que ela vai para a barriga, e não para o pé, mãos ou qualquer outra parte do corpo? “Não há motivo específico para ir para a barriga, mas é que lá é um local que normalmente conta com mais células de gordura. Por isso a gordura não vai para a orelha, pois é uma região com mais cartilagem, por exemplo”, brinca.

As mulheres também acumulam gordura em lugares diferentes dos homens. “Vai da anatomia”, diz a especialista.

O excesso de carboidratos pode levar a problemas sérios, como acúmulo de gordura nos órgãos, provocando problemas mais sérios do que puramente a estética. Esse problema acontece quando há muita gordura na região abdominal, e ela pode atingir órgãos essenciais, como o fígado.

¿Pode provocar esteatose hepática não alcoólica [gordura no fígado] e até cirrose por causa disso¿, alerta a médica. “Além disso, o excesso de gordura pode provocar diabetes e hipertensão.”

Escolha bons carboidratos

Cortar carboidratos é uma ideia tão ruim quanto consumi-los em excesso, então o ideal não é temer o pão de cada dia, mas equilibrar o seu consumo. Escolher carboidratos que não vão se transformar rapidamente em glicose faz com que eles forneçam energia em dose correta ao organismo. Uma dica é procurar aqueles de baixo índice glicêmico, pois eles não se transformarão em gordura, mas apenas em energia útil ao organismo.

“Há tabelas que quantificam e diferenciam os carboidratos de baixo índice glicêmico com o de alto índice glicêmico”, explica Letícia. “É diferente da quantidade de calorias que o alimento tem. Ele pode ser muito calórico, mas ter índice glicêmico baixo, bem como ter índice glicêmico alto e ser pouco calórico”, explica a médica sobre as boas escolhas.

Aprenda truques para evitar a barriga

Está morrendo de vontade de comer aquele pão francês ou o biscoito cheio de farinha branca? Associe o consumo deles com uma proteína.

Mesmo ingerindo mais calorias, o resultado será melhor do que se a ingestão for puramente do carboidrato simples. Isso acontece, explica Letícia, porque a proteína tem o poder de fazer o carboidrato ser absorvido de forma mais lenta.

Em outras palavras, ele não vai fornecer energia em excesso para as células, que, por sua vez, não pedirão ajuda para a insulina armazenar a energia excessiva em forma de gordura.

A nutricionista Paula Hertel também menciona associar os carboidratos aos alimentos com fibras, como saladas, farelos ou sementes. Essa prática também vai retardar a absorção deles, impedindo que se transformem em gordura.

Outro macete é evitar ao máximo consumir carboidratos à noite, principalmente se for perto da hora de dormir. “Quanto mais tarde, mais lenta será a digestão, e essa energia não será gasta”, diz a nutróloga. Resultado? Barriguinha indesejada.

Quer perder peso?

Mesmo começando a seguir essas dicas, não há solução mágica para perder a gordura que sobeja. Letícia explica que a volta ao peso ideal não envolve apenas escolher bons carboidratos, mas sim trocar hábitos de vida e de comportamento. “Ter uma alimentação correta, fazer atividade física e contar com a orientação de um profissional é fundamental”, explica.

Revisão técnica

  • Prof. Dr. Max Grinberg
  • Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
  • Autor do blog Bioamigo

Fonte: site Coração e Vida, produzido com a curadoria do cardiologista Dr. Roberto Kalil Filho.

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