Café após as refeições faz mal?

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Você é daqueles que costumam pedir um tradicional “cafezinho” logo após o almoço? Pois saiba que não há perigos associados a esta prática. Durante anos, o consumo da bebida logo após as refeições foi associado a problemas na absorção de nutrientes dos alimentos. Dessa forma, havia quem recomendasse que o café deveria ser consumido somente de 2 a 3 horas após o almoço.

No entanto, de acordo com Miguel Moretti, cardiologista e pesquisador do Centro de Pesquisa Café Coração do InCor (Instituto do Coração) do Hospital das Clínicas da FMUSP, a bebida pode ser consumida sem grandes preocupações logo após o almoço. Ela, inclusive, auxilia na digestão do que foi consumido.

“A cafeína estimula a produção de suco gástrico. Isso acaba aumentando a produção de ácido clorídrico e amplia também o poder de digestão. Ou seja, você terá mais ácido e, consequentemente, uma digestão melhor”, explica o especialista.

Segundo afirma o cardiologista, os possíveis problemas estão relacionados não ao consumo do café em si, mas ao que foi ingerido na refeição anterior.

“O problema é se a pessoa comeu pouco [no almoço]. Porque se você produz mais suco gástrico que o habitual, o que acontecerá é que se você não tiver nada no estômago para digerir, o ácido irá começar a digerir o estômago. E aí corre-se o risco de desenvolver gastrite, dor de estômago”, complementa.

Em condições normais, após um almoço que contemple uma refeição balanceada, portanto, não há risco no consumo imediato de café. No entanto, além da quantidade de alimentos ingeridos, é preciso atentar-se para pessoas que simplesmente não devem contar com esse estímulo extra na produção de suco gástrico.

“Há pessoas que não podem tomar café porque o estímulo de produção de ácido clorídrico, de suco gástrico, é tão intenso nelas que, ao tomarem o café, independentemente de o estômago estar cheio ou vazio, haverá dor de estômago”, explica.

Além disso, quem está muito tenso, estressado e/ou ansioso deve evitar o consumo de café logo após as refeições. A lógica é a mesma: essas pessoas já estão com excesso de adrenalina, portanto, não devem tomar algo que estimule a produção de suco gástrico, sob o risco de enfrentarem dor de estômago.

“Basicamente, o único cuidado de tomar café após as refeições, se pensarmos em termos de prejuízo, é esse: o aumento da produção de suco gástrico”, completa o especialista, destacando novamente que essa produção não será prejudicial em condições “normais”.

Ainda de acordo com o cardiologista, o consumo de café logo após as refeições está muito associado a um hábito social, que vem se perdendo com o tempo.

Antigamente (embora não muito tempo atrás), as pessoas tinham mais tranquilidade para almoçar e pediam o café após a refeição justamente porque ainda tinham 5 ou 10 minutos para seguir conversando com quem as estivesse acompanhando.

“Antigamente, você não tinha internet, não tinha que voltar correndo ao trabalho, não tinha celular, então era um ato social, de forte apelo social”, explica. Hoje em dia, no entanto, os hábitos mudaram e o consumo do café logo após o almoço foi prejudicado.

Importante destacar também que, ao falarmos de refeições, precisamos diferenciar o almoço do jantar. Enquanto a primeira contempla o consumo da bebida sem prejuízos, a segunda geralmente não considera o café logo após seu término. Não porque provoca algum dano, mas porque a cafeína pode prejudicar o sono de algumas pessoas. É preciso cuidado para não generalizar, no entanto, pois não são todas as pessoas sensíveis à cafeína.

“O problema de tomar o café depois do jantar é que algumas pessoas são mais sensíveis e irão perder o sono”, afirma. Nesse caso, misturar o café com o leite (dependendo da quantidade de cada um deles) pode não surtir qualquer efeito, mantendo o prejuízo ao sono daqueles mais sensíveis. O melhor, portanto, é seguir com o cafezinho logo após o almoço.

Revisão técnica

  • Prof. Dr. Max Grinberg
  • Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
  • Autor do blog Bioamigo

Fonte: site Coração e Vida, produzido com a curadoria do cardiologista Dr. Roberto Kalil Filho.

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