Tenho câncer de próstata. E agora?

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Você já se imaginou no lugar de uma pessoa que tem câncer? Muita gente faz esse exercício pelo medo que a doença traz, pelo impacto profundo que tem na rotina e na vida e pensando como seria a reação à notícia. Mas muitos imaginam acontecer já na velhice, talvez. Márcio Natividade viveu tudo isso em um momento em que a grande maioria dos homens insiste em não querer pensar no assunto.

“Eu descobri o câncer de próstata quando estava com 45 anos, em uma visita ao médico e porque comecei a ter sintomas”, conta ele. “Eu era resistente a fazer o exame, sim. Como muitos homens, eu pensava ‘não estou sentindo nada, não preciso de médico’.” Márcio só decidiu procurar um clínico quando percebeu que estava indo muito ao banheiro à noite e, principalmente, quando, em uma dessas vezes, urinou e o jato saiu muitíssimo fraco.

O urologista fez várias perguntas, ouviu Márcio e passou ao exame de toque (que o paulistano nunca tinha feito). Ali, o médico já percebeu a próstata “alteradíssima”, com “o tamanho de um limão” – quando o normal é ter um quinto disso.

“Uma série de exames depois, próximo do meu aniversário, fiz uma biópsia e fiquei internado porque tive uma infecção. Lá, para minha surpresa, meu médico apareceu. Ele teve a iniciativa de ir me dizer pessoalmente que eu estava com câncer e precisava operar”, diz Márcio.

“Eu fiquei preocupado, sim. Era um triste presente de aniversário. Tive então um encontro com outra médica, que explicou que quase metade da minha próstata estava tomada pela doença e que, pelo tamanho do tumor, eu corria risco de vida. Entramos então em um tratamento preliminar – feito no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, o Icesp.”

Márcio passou um ano tomando injeções de três em três meses para regredir o tumor e poder fazer a cirurgia em si. Ele conta que, junto com a esposa, Sandra, abraçou o tratamento – e que um estado de espírito sempre otimista o ajudou muito a superar cada fase.

Muito jovem para desistir

No pós-cirúrgico, Márcio logo quis voltar a trabalhar (usando sonda e tudo) já que era, na época, supervisor de esportes da Secretaria de São Paulo e ter uma vida ativa e ligada ao esporte era essencial para ele.

“Fui melhorando muito, retirei a sonda, fiz todo o período de recuperação seguindo as instruções dos médicos. E voltei a andar de skate assim que me permitiram. Eu ando de skate, como se diz, ‘pesado'”, diverte-se ele.

O médico que acompanha Márcio diz que esse tipo de câncer, em homens com menos de 50 anos, chega realmente muito agressivo. E que ele, dali por diante, teria que lidar consigo mesmo como um portador de doença crônica, que pede cuidados ao longo da vida.

“Eu e meu médico tivemos uma relação importante nesse caso, porque eu sou o tipo de pessoa que precisa de absolutamente todas as informações, não aguento nada ‘pela metade’. E o doutor [Alexandre Crippa, uro-oncologista do Icesp] era muito claro, o que me ajudou demais. Ele levou em conta meu perfil atlético, me deu todas as coordenadas para a melhor recuperação de um tratamento bastante longo e que ainda segue. “

Márcio conta que, quando soube da malignidade, decidiu que só se sentiria mal quando realmente estivesse fisicamente mal, sem ficar pessimista antes disso, sem se deixar abater e se entregando ao tratamento.

“Eu sou muito vaidoso, mas não na aparência; gosto de ser ativo, é nesse sentido. Eu vi amigos definharem com essa doença e fiquei muito marcado, eu me preocupei muito de seguir bem. Continuei fazendo exercícios, continuei sendo vegetariano como sou desde criança e praticamente segui mantendo a vida esportiva”, diz ele.

Sandra, esposa de Márcio, foi decisiva nesse momento também. “Busquei informações e me encarreguei de estar perto em todo o tratamento, respeitar os horários de remédios, dietas, tudo”, conta. “E eu procurei desde o início ser companheira – no sentido de ser aquela que faz companhia mesmo, nas consultas, no dia a dia [eles trabalham juntos]. É assim até hoje, e muitas vezes acabo fazendo mais perguntas do que ele para os especialistas. “

Buscar informações é mesmo essencial. Mas um dos fatores importantes para prevenir o câncer de próstata, ter o histórico familiar, não era fácil no caso de Márcio. Como não fala com o pai há muitos anos, ele não tinha esse conhecimento (e o alerta) antes. Ao descobrir o câncer, ele sequer tinha focado ainda no exame de toque anual (que, no Brasil, é recomendado a partir dos 50 anos, mas muitos institutos e profissionais da saúde já indicam a partir dos 45 anos).

Com a gravidade do seu caso, Márcio teve que fazer radioterapia após a cirurgia, o que trouxe ainda alguns percalços no intestino e no reto. Com outras internações, sessões de acupuntura, medicamentos e dieta seguidos à risca, ele foi superando etapa por etapa.

“Perdi cinco quilos em dois meses, me senti fraco muitas vezes. Mas eu e minha esposa passamos por tudo isso juntos. Imagina o que é um vegetariano de dieta? Um show de horror”, brinca.

Com saúde, sobre o skate

Hoje, Márcio conta que está retomando o ritmo normal com sua atividade preferida, o skate, e há dois meses os marcadores que apontam o câncer estão normais – daí ele sente ainda mais vontade de sair e fazer de tudo.

“Trabalho com a produção de eventos, como diretor técnico, e sinto mais disposição agora. Soube que meu PSA diminuiu [exame de sangue que aponta a situação do câncer] e minha testosterona voltou a ficar alta [ela que era como uma ‘causadora’Márcio também faz questão de mandar um recado a todos os homens que temem ou que de fato descobrem o câncer de próstata: “Eu não fiquei impotente, vale dizer. Os homens imaginam isso, mas não é bem assim. Quem tinha algum problema nesse sentido antes talvez possa passar pela impotência, mas para mim ficou tudo muito bem nessa questão”. da doença, tendo que ser mantida controlada]”, explica.

Márcio também faz questão de mandar um recado a todos os homens que temem ou que de fato descobrem o câncer de próstata: “Eu não fiquei impotente, vale dizer. Os homens imaginam isso, mas não é bem assim. Quem tinha algum problema nesse sentido antes talvez possa passar pela impotência, mas para mim ficou tudo muito bem nessa questão”.

Confiante, ele diz que agora toca a vida com o seguinte princípio: a mente influi no estado geral de quem descobre um câncer. Então, acreditar na melhora ajuda muito a lidar bem com o tratamento e a recuperação.

“Como eu desejo ficar bom e tenho boas notícias clínicas, confio cada vez mais”, finaliza.

* Márcio Natividade tem hoje 53 anos, é produtor esportivo e dono de uma agência de marketing esportivo. Ainda um skatista profissional, mora em São Paulo com Sandra, publicitária, e eles têm uma filha, Amada, e uma netinha, Ana Beatriz.

Revisão técnica

  • Prof. Dr. Max Grinberg
  • Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
  • Autor do blog Bioamigo

Fonte: site Coração e Vida, produzido com a curadoria do cardiologista Dr. Roberto Kalil Filho.

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