
De acordo com o Ministério da Saúde, o câncer de mama é o tipo de câncer mais comum entre as mulheres no mundo e no Brasil, representando cerca de 28% dos casos de câncer femininos. Além disso, o impacto do diagnóstico de câncer de mama vai muito além dos aspectos físicos. Cada etapa da doença (do diagnóstico ao tratamento e à recuperação) impõe à mulher desafios emocionais e psicológicos significativos e complexos. Entender como o câncer de mama afeta a saúde mental da mulher é fundamental para um cuidado integral e humanizado. Não é à toa que campanhas de conscientização, como o Outubro Rosa, têm destacado a importância de olhar não só para o corpo, mas também para a mente da paciente. Esse olhar visa não apenas a cura do corpo, mas também o bem-estar emocional durante todo o processo.
Impacto Emocional do Diagnóstico
Receber a notícia de um diagnóstico de câncer de mama é um momento de profundo abalo psicológico para a maioria das mulheres. Não raramente, esse diagnóstico é imediatamente associado ao medo da morte e a imagens de um tratamento doloroso e desgastante. Como resume a psiquiatra Aline Rangel, o diagnóstico de câncer ainda traz a perspectiva de “morte precoce ou, no melhor cenário, um tratamento muito sofrido, efeitos colaterais… ficar careca e ter as mamas mutiladas”. Diante dessa perspectiva assustadora, a paciente pode inicialmente passar por fases de choque e negação, seguidas de medo e incerteza quanto ao futuro. O primeiro impacto emocional costuma envolver angústia intensa, ansiedade e sensação de perda de controle sobre a própria vida – fatores que já justificam a importância de um acolhimento psicológico imediato após o diagnóstico.
Ansiedade e Medo Durante o Tratamento
Após o choque inicial, é frequente que a ansiedade e o medo acompanhem a mulher ao longo de todo o tratamento oncológico. Essa jornada é marcada por diversas incertezas: preocupações com a eficácia das terapias, com os resultados de exames, com as cirurgias e seus efeitos, além do receio de complicações ou mesmo da recorrência da doença. De acordo com especialistas, os problemas emocionais mais comuns nesse percurso envolvem ansiedade, insegurança, medo, angústia e tristeza, bem como preocupação constante com as mudanças que o câncer pode trazer para a vida. Esses sentimentos podem oscilar em intensidade ao longo do tratamento e, caso não sejam adequadamente manejados, o estresse e a ansiedade prolongados podem evoluir para quadros mais graves, interferindo na qualidade de vida e até mesmo na adesão ao tratamento.
Depressão e Sofrimento Psicológico
Além da ansiedade, a depressão é um transtorno que pode acometer muitas mulheres durante a luta contra o câncer de mama. Estima-se que cerca de 10% a 25% das pacientes desenvolvem depressão clínica ao longo do tratamento. O desgaste prolongado imposto pela doença e por terapias agressivas muitas vezes leva a um quadro depressivo, marcado por tristeza profunda, perda de interesse nas atividades, desesperança e isolamento. Um estudo identificou sintomas de depressão em mais de 25% das pacientes e de ansiedade em mais de 30%, confirmando que esses transtornos mentais são prevalentes e prejudicam a adesão ao tratamento e a qualidade de vida. O câncer de mama destaca-se como um dos tipos com maior prevalência de comorbidades psiquiátricas, reforçando a necessidade de atenção especial à saúde mental dessas pacientes. Por isso, é fundamental reconhecer precocemente os sinais de depressão e encaminhar a paciente para apoio especializado, minimizando ao máximo seu sofrimento.
Autoimagem e Autoestima
As mudanças físicas decorrentes do câncer de mama e de seu tratamento têm impacto direto na autoimagem e na autoestima da mulher. Procedimentos como a mastectomia (remoção total ou parcial da mama) e efeitos da quimioterapia, como a queda de cabelo, afetam a identidade e a sensação de feminilidade da paciente. O seio é um símbolo de feminilidade, de modo que perder essa parte do corpo constitui um golpe difícil de assimilar. É comum que a mulher não se reconheça diante do espelho ou se sinta menos atraente e confiante. Especialistas afirmam que aceitar a nova imagem corporal após a mutilação exige um grande esforço e geralmente requer apoio próximo de alguém de sua confiança. Muitas vezes a autoestima despenca nesse processo, tornando indispensável o acompanhamento terapêutico para que a mulher recupere uma relação positiva com o próprio corpo.
Sexualidade e Relacionamentos
A percepção da mulher
A experiência com o câncer de mama pode prejudicar a vida sexual e os relacionamentos íntimos. Alterações corporais e emocionais podem fazer a paciente se sentir insegura quanto à própria sexualidade e atratividade. Por vergonha do próprio corpo ou medo de rejeição, algumas mulheres acabam evitando o contato íntimo, considerando-se menos femininas ou pouco desejáveis ao parceiro.
O papel do parceiro
Ao mesmo tempo, há parceiros que demonstram desconforto diante das transformações físicas da mulher, como receio de tocar nas cicatrizes ou de não saber como agir. Com diálogo aberto e paciência, muitos casais conseguem retomar a vida sexual conforme a mulher recupera a autoconfiança. A falta de intimidade e de comunicação pode gerar tensão no relacionamento; por isso é fundamental que o casal dialogue e, se necessário, busque apoio profissional para atravessar junto essa fase.
Rede de Apoio Familiar e Social
A rede de apoio formada por familiares e amigos próximos desempenha um papel crucial na saúde mental da mulher com câncer de mama. O envolvimento da família no tratamento contribui para a aceitação da doença e melhora a qualidade de vida da paciente. Da mesma forma, participar de grupos de apoio ou conectar-se com outras mulheres que já enfrentaram o câncer traz conforto emocional e estratégias valiosas de enfrentamento, além de reduzir a sensação de isolamento. Bons amigos também podem auxiliar em tarefas cotidianas para que a mulher não se sobrecarregue durante o tratamento. Sentir-se amparada por pessoas queridas alivia o estresse e favorece uma melhor adaptação psicológica durante e após o tratamento.
Importância do Acompanhamento Psicológico
Diante de todos esses impactos na esfera mental, é vital incluir suporte psicológico profissional no tratamento do câncer de mama. Especialistas enfatizam que o cuidado com a saúde mental antes, durante e após o tratamento é tão essencial quanto o tratamento médico, podendo interferir inclusive nos resultados caso seja negligenciado. Profissionais especializados em psico-oncologia podem ajudar a paciente a lidar melhor com seus sentimentos e a manter a motivação para seguir com as terapias. Estudos mostram que pacientes acompanhadas por psicólogos apresentam melhor ajuste emocional, menos sintomas de ansiedade e depressão e maior adesão ao tratamento, refletindo-se em melhor qualidade de vida e possivelmente em maior sobrevivência. Além do suporte profissional, estimular atividades de lazer, práticas de autocuidado e até mesmo a espiritualidade (de acordo com as crenças da paciente) pode ajudar a manter o equilíbrio emocional durante o tratamento.
O câncer de mama afeta a mulher em múltiplas dimensões, exigindo atenção integral à saúde física e mental. O abalo na saúde mental é uma resposta humana à gravidade do diagnóstico e às mudanças impostas pelo tratamento. No entanto, com suporte adequado (seja profissional, seja de uma rede de apoio sólida) é possível enfrentar essa jornada com mais resiliência. Oferecer à paciente não apenas cuidados médicos, mas também acolhimento emocional e ferramentas para lidar com o estresse ajuda a manter a esperança e a qualidade de vida mesmo diante do câncer. Em última análise, cuidar da saúde mental da mulher com câncer de mama é fundamental para humanizar o tratamento e promover uma recuperação mais plena. Em outras palavras, cuidar da mente é tão importante quanto cuidar do corpo no enfrentamento do câncer de mama.
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Fontes:
https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/c/cancer-de-mama
https://www.unasus.gov.br/noticia/aspectos-psicologicos-do-cancer-de-mama