
O mês de junho é marcado por uma das campanhas mais importantes para a saúde pública no Brasil: o Junho Vermelho. Criada para conscientizar e incentivar a doação de sangue, essa iniciativa ganha ainda mais relevância no inverno, quando os estoques dos hemocentros costumam atingir níveis críticos devido à baixa adesão da população. Embora o ato de doar seja simples e seguro, muitos ainda hesitam diante de mitos e receios infundados. Neste artigo, vamos aprofundar a importância da doação, derrubar tabus e trazer à luz informações que ajudam a construir uma cultura de solidariedade baseada em dados e conhecimento.
A importância da doação de sangue
De acordo com dados do Ministério da Saúde, menos de 2% da população brasileira doa sangue regularmente, um número inferior à recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que sugere que entre 3% e 5% da população de um país seja doadora para atender de forma segura à demanda hospitalar. O sangue é insubstituível, ou seja, não há alternativa artificial que possa reproduzir suas funções vitais no corpo humano. Ele é utilizado em diversas situações, desde emergências, cirurgias complexas, tratamentos oncológicos e doenças crônicas como anemia falciforme e talassemia. O desafio é constante: todos os dias, hospitais e unidades de saúde precisam manter seus estoques abastecidos para garantir que vidas sejam salvas. Um único doador pode salvar até quatro vidas, considerando que os componentes do sangue (plasma, plaquetas, hemácias e crioprecipitado) podem ser separados e utilizados em pacientes diferentes.
Desmistificando os medos: o que realmente acontece ao doar
A doação de sangue é um procedimento simples, rápido e seguro. Em média, dura menos de 10 minutos e envolve a coleta de aproximadamente 450 ml de sangue. Muitas pessoas ainda acreditam que doar enfraquece o organismo ou que pode causar doenças, mas essas afirmações não têm qualquer respaldo científico. O corpo humano é capaz de repor o volume doado em cerca de 24 horas e os glóbulos vermelhos em até 60 dias, o que torna possível a doação a cada dois meses para homens e a cada três meses para mulheres. Estudos conduzidos pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apontam que menos de 1% dos doadores relatam algum tipo de efeito adverso leve, como tontura ou mal-estar, e mesmo esses sintomas costumam ser passageiros. A segurança do doador é uma prioridade nos hemocentros, que seguem protocolos rigorosos e utilizam materiais totalmente descartáveis.
Quem pode e quem não pode doar: critérios e atualizações
Ao contrário do que muitos pensam, a maioria das pessoas saudáveis pode se tornar doadora. Para doar sangue, é preciso ter entre 16 e 69 anos, pesar no mínimo 50 kg, estar bem alimentado e em boas condições de saúde. Jovens de 16 e 17 anos também podem doar com autorização dos responsáveis legais. Quem tem mais de 60 anos e nunca doou anteriormente não é elegível, mas se a pessoa já é doadora regular, pode continuar até os 69 anos, conforme os critérios atualizados pelo Ministério da Saúde. Certas condições temporárias, como gripes, infecções ou tatuagens recentes (menos de 6 meses), impedem a doação apenas por um período. Já situações como anemia severa, hepatites após os 11 anos ou uso de drogas injetáveis podem ser impedimentos definitivos. O mais importante é que todos os doadores passem por uma triagem rigorosa, com entrevista e testes, para garantir a segurança de quem doa e de quem recebe.
Atualizações sobre a elegibilidade
Nos últimos anos, houve avanços importantes na ampliação da elegibilidade de doadores. Em 2020, uma decisão do Supremo Tribunal Federal considerou inconstitucional a restrição à doação de sangue por homens que têm relações com outros homens. Essa mudança foi um marco na promoção da equidade e da ciência baseada em evidências, uma vez que os critérios de triagem devem considerar comportamentos de risco, e não identidades ou orientações.
O impacto do Junho Vermelho nas políticas públicas
O Junho Vermelho foi criado em 2015 pelo movimento Eu Dou Sangue, com o objetivo de mobilizar a população durante o mês que marca o Dia Mundial do Doador de Sangue, celebrado em 14 de junho. A data, instituída pela OMS, homenageia o nascimento de Karl Landsteiner, o médico austríaco que descobriu os grupos sanguíneos. Desde então, campanhas de visibilidade em prédios públicos, iluminação em vermelho de monumentos e ações de mobilização nas redes sociais têm ajudado a criar uma cultura de doação contínua. Pesquisas como a realizada pelo Instituto Datafolha em parceria com o Conselho Federal de Medicina revelam que 62% dos brasileiros afirmam ter vontade de doar sangue, mas apenas 29% efetivamente o fazem. Esse dado evidencia que há um abismo entre intenção e ação, muitas vezes causado por falta de informação ou medo. Por isso, campanhas como o Junho Vermelho cumprem um papel essencial de conscientização, mostrando que doar sangue é um gesto de empatia e responsabilidade social.
Doação de sangue e empatia: o lado humano do ato
Para além dos dados e critérios técnicos, a doação de sangue é um ato profundamente humano. Não se trata apenas de uma prática médica, mas de um gesto de solidariedade com pessoas que enfrentam momentos críticos. Cada doador carrega a possibilidade de mudar o destino de alguém. Em UTIs, salas de emergência e bancos de sangue, histórias se cruzam sem que as pessoas sequer se conheçam. Em muitos casos, o sangue doado permite que um recém-nascido prematuro sobreviva, que um paciente oncológico continue seu tratamento ou que uma vítima de acidente seja estabilizada. É essa cadeia silenciosa de cuidado e generosidade que torna a doação tão significativa. Quando olhamos para o Junho Vermelho sob essa perspectiva, percebemos que ele vai além de uma campanha: é um chamado à empatia.
Os desafios da pandemia e a retomada da confiança
Durante os anos de pandemia da COVID-19, os hemocentros de todo o país enfrentaram quedas expressivas nos estoques. O medo da contaminação afastou doadores e criou um cenário preocupante. No entanto, medidas de biossegurança e agendamento prévio foram implementadas para garantir que a doação de sangue pudesse continuar de forma segura. Segundo levantamento do Hemorio, o número de doações caiu até 40% em alguns momentos de 2020 e 2021, mas vem se recuperando gradualmente. Para que o Brasil alcance o índice recomendado pela OMS, é preciso mais do que campanhas pontuais. É necessário que a doação de sangue se torne um hábito regular, parte da rotina das pessoas, assim como ir ao médico ou praticar exercícios. Isso exige investimentos em educação, comunicação, acessibilidade nos postos de coleta e uma abordagem sensível e respeitosa nas triagens. Iniciativas como a criação de caravanas de doação, ações itinerantes em comunidades distantes e campanhas de incentivo em datas comemorativas são importantes, mas devem estar acompanhadas de políticas públicas permanentes. O sangue que salva vidas todos os dias depende da construção de uma sociedade consciente, informada e solidária.
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