
O mês de maio ganha um tom especial com o movimento Maio Roxo, criado com o propósito de conscientizar a população sobre as doenças inflamatórias intestinais (DIIs), como a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa. Essas condições, ainda pouco discutidas fora do meio médico, afetam milhares de pessoas no Brasil e no mundo, impactando profundamente a qualidade de vida dos pacientes e demandando atenção contínua à saúde intestinal. A simbologia da cor roxa foi adotada por organizações e profissionais da saúde para representar a luta por visibilidade, diagnóstico precoce, acesso a tratamentos adequados e combate ao preconceito que ainda ronda essas doenças. Em um cenário em que as DIIs estão crescendo, especialmente entre os jovens adultos, falar sobre o tema é uma forma de romper o silêncio que muitos pacientes enfrentam ao lidar com sintomas debilitantes e incompreendidos.
Compreendendo as doenças inflamatórias intestinais
As doenças inflamatórias intestinais são condições crônicas que provocam inflamações no trato gastrointestinal. Apesar de ainda não terem uma causa única e definida, acredita-se que estejam relacionadas a uma combinação de fatores genéticos, ambientais, imunológicos e até emocionais. A doença de Crohn pode atingir qualquer parte do sistema digestivo, da boca ao ânus, enquanto a retocoliteulcerativa se restringe ao cólon e ao reto, provocando ulcerações e inflamações contínuas na mucosa intestinal. De acordo com o estudo “Global Burden of Disease”, publicado pela revista *The Lancet* em 2020, mais de 6,8 milhões de pessoas no mundo vivem com algum tipo de DII. No Brasil, estima-se que mais de 100 mil brasileiros convivam com essas doenças, segundo a Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP). A incidência está aumentando, o que reforça a necessidade de campanhas como o Maio Roxo para promover informação e empatia.
Manifestações e impacto na vida cotidiana
As DIIs apresentam sintomas diversos, como diarreia persistente, dores abdominais, perda de peso, fadiga, sangramentos retais e urgência para evacuar. Esses sinais, muitas vezes confundidos com problemas gastrointestinais comuns, atrasam o diagnóstico. O tempo médio entre os primeiros sintomas e a confirmação do diagnóstico pode chegar a cinco anos, o que compromete ainda mais o controle da doença e o bem-estar do paciente. Além dos sintomas físicos, há um forte impacto emocional e social. Estudos apontam que pessoas com DII enfrentam maiores índices de ansiedade, depressão e isolamento social. A pesquisa publicada pelo *Inflammatory Bowel Diseases Journal* mostrou que cerca de 30% dos pacientes com doença de Crohn relataram sentir vergonha de contar sobre sua condição, por receio de julgamentos ou estigmas, o que afeta diretamente suas relações e autoestima.
Diagnóstico precoce: a chave para uma vida com mais qualidade
Uma das bandeiras levantadas durante o Maio Roxo é a importância do diagnóstico precoce. Identificar as doenças inflamatórias intestinais logo no início pode mudar completamente a trajetória do tratamento. Quanto mais cedo for iniciado o acompanhamento com profissionais especializados, maiores são as chances de manter a doença sob controle, evitando hospitalizações, cirurgias e comprometimento de outros órgãos. Os exames que auxiliam no diagnóstico incluem colonoscopia com biópsia, exames de sangue, fezes e técnicas de imagem como tomografia e ressonância magnética. Embora não haja cura definitiva, o tratamento adequado permite que o paciente tenha uma vida próxima do normal, com rotinas adaptadas às suas necessidades e focadas na prevenção de crises.
A importância da escuta ativa e empatia médica
O caminho até o diagnóstico costuma ser árduo. Muitos pacientes passam por diversas especialidades antes de encontrar um médico que compreenda seus sintomas. Nesse contexto, a escuta ativa por parte dos profissionais de saúde é essencial. Um levantamento realizado pela European Crohn’s and Colitis Organisation (ECCO), com mais de 1.200 pacientes europeus, indicou que 38% sentiram que seus sintomas iniciais foram minimizados por médicos generalistas, o que retardou o encaminhamento para um especialista. Esse dado nos convida a refletir sobre a urgência de uma abordagem humanizada, tanto nos atendimentos clínicos quanto nas campanhas de conscientização. Ouvir o paciente, compreender sua dor e validar sua experiência são passos fundamentais para promover um diagnóstico preciso e um tratamento mais eficaz.
Tratamento: uma jornada contínua de adaptação e cuidado
O tratamento das doenças inflamatórias intestinais é multifatorial. Pode incluir medicamentos anti-inflamatórios, imunossupressores, biológicos e terapias complementares, além de mudanças no estilo de vida. Cada caso é único e exige acompanhamento contínuo, monitoramento de sintomas e, muitas vezes, intervenções cirúrgicas. A introdução de medicamentos biológicos nas últimas décadas revolucionou o manejo das DIIs, proporcionando controle mais eficaz da inflamação e, em muitos casos, adiando ou evitando cirurgias. No entanto, esses tratamentos ainda são de alto custo e nem sempre acessíveis a todos os pacientes, o que torna a luta por políticas públicas mais inclusivas uma das frentes do Maio Roxo.
Alimentação, rotina e saúde mental
A relação entre alimentação e DIIs é complexa. Embora não exista uma dieta universal, muitos pacientes relatam melhora significativa dos sintomas ao evitar certos alimentos. O acompanhamento com nutricionistas é fundamental para garantir que o paciente mantenha uma nutrição adequada mesmo durante as crises. A saúde mental também desempenha um papel importante. Estudos da American Gastroenterological Association (AGA) indicam que o estresse pode estar associado ao aumento da atividade inflamatória em pessoas com DII. Por isso, práticas como terapia cognitivo-comportamental, meditação, exercícios físicos moderados e apoio de grupos de convivência são ferramentas valiosas no cuidado integral.
Desafios sociais e invisibilidade das doenças inflamatórias intestinais
Um dos maiores desafios enfrentados pelos pacientes é o preconceito e a falta de compreensão por parte da sociedade. Por serem doenças invisíveis, sem manifestações externas óbvias, muitos pacientes são julgados como preguiçosos, exagerados ou até instáveis emocionalmente. Essa percepção distorcida faz com que muitos escondam sua condição, o que só agrava o sofrimento. O Maio Roxo busca justamente combater essa invisibilidade. A conscientização da população é um passo importante para a criação de espaços mais acolhedores, sejam eles escolas, ambientes de trabalho, ou redes de apoio. Com informação de qualidade e empatia, é possível reduzir o estigma e promover uma convivência mais justa para quem vive com DII. O Maio Roxo é mais do que um mês no calendário. É um convite à escuta, à empatia e à ação. É uma oportunidade de romper com o desconhecimento e abrir caminhos para que as doenças inflamatórias intestinais deixem de ser invisíveis. Que possamos usar esse período para aprender, acolher e nos comprometer com uma sociedade mais justa, onde viver com DII não seja motivo de vergonha, mas de resistência e coragem. Que o roxo, cor da transformação e da introspecção, nos lembre da importância de olhar para o outro com mais humanidade. E que, ao final de maio, levemos essa consciência conosco, para todos os outros meses do ano.
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