
O puerpério é um dos momentos mais intensos e complexos da vida de uma mulher. Ele começa logo após o parto e se estende, geralmente, por seis a oito semanas, embora muitos profissionais de saúde considerem que os efeitos físicos e emocionais possam durar até um ano. Durante esse período, o corpo da mulher passa por transformações profundas para retornar ao estado anterior à gestação, enquanto a mente se adapta a uma nova rotina cheia de desafios, medos e descobertas. Conhecer o que acontece no puerpério ajuda a enfrentar esse tempo com mais segurança e empatia, tanto para quem vive essa fase quanto para quem está ao lado da mãe. Mais do que um tempo de recuperação física, o puerpério é um período de construção do vínculo com o bebê e de ressignificação da própria identidade da mulher.
O que é o puerpério e quanto tempo dura?
O puerpério é o intervalo de tempo que começa imediatamente após a saída da placenta e segue por um período em que o corpo da mulher retorna progressivamente ao seu estado pré-gestacional. O Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde consideram esse tempo como sendo de aproximadamente 42 dias. No entanto, muitas mudanças hormonais, emocionais e sociais extrapolam esse período. O chamado “puerpério tardio” pode estender-se por até um ano, especialmente em casos em que a amamentação é prolongada ou quando a mulher desenvolve quadros como depressão pós-parto. Ao longo desse tempo, o útero volta ao tamanho original, o sistema hormonal se reorganiza e o corpo, de modo geral, adapta-se à ausência da gravidez. Mais do que isso, a mulher lida com novas responsabilidades, privações de sono, recuperação de possíveis feridas do parto e, muitas vezes, com uma carga emocional intensa que precisa ser compreendida e acolhida.
Mudanças físicas: o corpo em processo de recuperação
Fisicamente, o puerpério é um tempo de involução. O útero, que durante a gravidez chegou a pesar até 1 kg, retorna ao seu tamanho e peso originais – cerca de 60g. Esse processo, chamado de involução uterina, leva cerca de duas semanas e pode ser acompanhado por cólicas, principalmente nas mulheres que amamentam, já que a ocitocina liberada durante a sucção estimula contrações. O sangramento vaginal, chamado de lóquio, também é parte natural da recuperação. Ele muda de aspecto com o tempo: começa vermelho vivo, vai se tornando amarronzado e depois esbranquiçado, até cessar completamente em até 45 dias. Além dessas alterações, é comum que a mulher sinta dor na região perineal, especialmente se houve episiotomia ou laceração no parto vaginal. Já as que passaram por cesariana devem manter cuidados com a ferida cirúrgica, evitando esforços e observando sinais de infecção. As mamas também passam por transformações: a “descida do leite” ocorre geralmente entre o segundo e o quinto dia após o parto e pode provocar ingurgitamento mamário, deixando os seios doloridos e endurecidos. A amamentação frequente é o melhor caminho para aliviar esse desconforto, e contar com orientação profissional pode ajudar a prevenir complicações como fissuras nos mamilos e mastite.
Transformações emocionais: o puerpério na mente da mulher
Do ponto de vista emocional, o puerpério pode ser comparado a uma montanha-russa. Logo após o parto, ocorre uma queda abrupta nos níveis de estrogênio e progesterona, hormônios que estavam em alta durante a gestação. Ao mesmo tempo, a mulher precisa lidar com o cansaço extremo, as demandas de um bebê que precisa de cuidados constantes e, muitas vezes, a ausência de uma rede de apoio sólida. É comum que a mãe se sinta sobrecarregada, confusa e sensível. Entre 70% e 80% das puérperas experienciam o chamado “baby blues”, um estado de melancolia que surge nos primeiros dias após o parto. Nesses casos, a mulher pode chorar sem motivo aparente, ter insônia, irritabilidade e sentimentos ambivalentes em relação à maternidade. Embora transitório, o baby blues pode evoluir para algo mais sério, como a depressão pós-parto. De acordo com a Fiocruz, mais de 25% das mulheres brasileiras apresentam sintomas de depressão entre 6 e 18 meses após o parto. Os sinais incluem tristeza persistente, falta de interesse nas atividades diárias, dificuldade em estabelecer vínculo com o bebê e sentimentos de inutilidade. A depressão pós-parto é uma condição médica real e deve ser tratada com acompanhamento profissional, podendo incluir psicoterapia e, em alguns casos, medicação compatível com a amamentação.
Rede de apoio: um fator de proteção
Nenhuma mulher deveria enfrentar o puerpério sozinha. A presença de uma rede de apoio pode fazer toda a diferença na forma como ela vive esse momento. Cuidar de um recém-nascido exige energia física e emocional, e quando essa carga recai inteiramente sobre a mãe, os riscos de exaustão aumentam significativamente. O parceiro ou parceira, familiares e amigos próximos devem estar presentes não apenas para ajudar com o bebê, mas também para cuidar da mãe. Cozinhar, limpar a casa, segurar o bebê para que ela tome um banho tranquila ou simplesmente estar ao lado para ouvir já são gestos poderosos. Além disso, é essencial respeitar o tempo e os sentimentos da puérpera, sem cobrar perfeição ou romantizar a maternidade. Comentários como “aproveita, passa tão rápido” ou “você precisa ser forte” podem soar insensíveis diante da exaustão e do sofrimento. Um olhar acolhedor e a escuta empática são atitudes fundamentais para garantir que a mulher se sinta segura e validada nesse período tão frágil e intenso.
Amamentação e autocuidado
A amamentação, embora natural, é um aprendizado para mãe e bebê. Os primeiros dias costumam ser desafiadores: o bebê ainda está se adaptando à vida fora do útero, e a mãe está aprendendo a posicioná-lo corretamente, além de lidar com as dores e dúvidas que surgem. O apoio de profissionais da saúde e de outras mães pode ajudar a tornar essa experiência mais leve. Ao mesmo tempo, é fundamental que a mulher pratique o autocuidado. Isso não significa seguir padrões estéticos ou metas irreais de “voltar ao corpo de antes”, mas sim respeitar seu tempo, ouvir o próprio corpo, alimentar-se bem, dormir sempre que possível e buscar ajuda quando necessário. Cuidar de si mesma é parte essencial do cuidado com o bebê.
Retomada da vida sexual e contracepção
Outro aspecto importante do puerpério é a retomada da vida sexual. A recomendação médica costuma ser esperar cerca de 40 dias após o parto, mas essa não é uma regra fixa. Cada mulher deve respeitar o seu tempo, levando em conta fatores físicos e emocionais. A lubrificação vaginal pode estar reduzida nesse período, especialmente se a mulher estiver amamentando, o que torna o uso de lubrificantes uma boa opção. Além disso, a escolha do método contraceptivo deve ser feita com orientação médica. Mulheres que amamentam devem evitar anticoncepcionais combinados com estrogênio, optando por métodos com progesterona ou dispositivos intrauterinos. A fertilidade pode retornar antes mesmo da primeira menstruação, portanto, a proteção é necessária mesmo nos primeiros meses do pós-parto. O puerpério é uma fase que exige presença, cuidado e acolhimento. Não é apenas um tempo de recuperação física, mas também de grandes mudanças psicológicas, emocionais e sociais. É quando a mulher aprende, muitas vezes na prática e no erro, a ser mãe. Um tempo de vulnerabilidade, mas também de força. Conhecer as características do puerpério, estar bem informada e contar com uma rede de apoio preparada fazem toda a diferença na forma como esse período será vivido. A sociedade também precisa estar atenta e comprometida com a saúde materna, oferecendo suporte em vez de cobrança, empatia em vez de julgamento. Afinal, quando cuidamos da mãe, cuidamos também do bebê e fortalecemos toda a família. E é exatamente isso que torna o puerpério um período tão essencial.
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Fontes:
https://agencia.fiocruz.br/depressao-pos-parto-acomete-mais-de-25-das-maes-no-brasil
https://www.huggies.com.br/gravidez/pos-parto/sexo-pos-parto.html
https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/s/saude-da-mulher/saude-materna