Vida sexual pós-tratamento do câncer de próstata

Compartilhe:
FacebookTwitterWhatsAppLinkedInShare

O “novembro azul” incentiva o homem a cuidar melhor de sua saúde, focando principalmente no câncer de próstata, um tipo de câncer que pode ser evitado se o paciente vai urologista periodicamente.

Infelizmente, a maioria dos homens não tem esse hábito. E por mais que o câncer de próstata seja absolutamente curável, ele pode trazer problemas na vida sexual do homem, por diversas razões. Para falar melhor sobre isso, vou explicar um pouco sobre as principais dúvidas a respeito deste tema:

Por que a cirurgia da próstata afeta a vida sexual?

É importante salientar que nem todo tratamento para câncer de próstata causa alterações na vida sexual do homem. Hoje existem recursos para tratar as doenças da próstata preservando a potência sexual. A cirurgia que verdadeiramente traz um impacto maior nessa área é a prostatectomia radical. Cirurgias menores como a RTU conhecida como “raspagem”, raramente trazem alguma mudança na vida sexual. No máximo causam a ejaculação retrógrada, situação em que o ejaculado vai para dentro da bexiga ao invés de sair em jatos como no orgasmo “normal”.

Mas no caso da prostatectomia radical, a cirurgia para tratar o câncer, o impacto é bem maior. A cirurgia provoca alterações no orgasmo, na potência sexual e até na libido. Por isso, a chamada “reabilitação sexual” deve começar idealmente antes da cirurgia. Cerca de 90% dos homens submetidos a esta cirurgia sofrerão de disfunção erétil. Todos passarão a não ejacular nada após o procedimento, pois além da interrupção dos dutos deferentes que conduziam os espermatozoides produzidos nos testículos, as vesículas seminais são também removidas junto com a próstata. Não há mais produção de sêmen. Estar prevenido, portanto, preparando-se para as etapas que enfrentará é muito importante.

A protectomia com robô impede a impotência?

A prostatectomia radical pode ser realizada com corte tradicional, laparoscópica ou com o robô. Até agora, nenhum estudo comparativo de boa qualidade mostrou que uma técnica é superior a outra. Ou seja, ninguém pode afirmar, com base em evidências científicas robustas, que operar com o auxílio do robô reduz o risco de impotência sexual e mesmo de incontinência urinária.

Os parâmetros que fazem a diferença em saber o risco de ficar impotente por causa da cirurgia são de dois tipos: relacionados à saúde cardiovascular do indivíduo e relativos à cirurgia em si. No primeiro grupo destacamos: a idade, a presença de comorbidades como diabetes, hipertensão, obesidade e tabagismo, a existência prévia de vida sexual ativa e o mais importante, a situação da ereção antes da cirurgia. Em outras palavras, quem já possui algum grau de disfunção erétil antes de operar tem maior chance de piorar com a realização da cirurgia para tratar o câncer da próstata.

No outro grupo de fatores contam a experiência do cirurgião, a localização do tumor e a anatomia individual de cada paciente. Esses são fatores que influenciam na possibilidade de preservar ou danificar os chamados nervos erigentes, que passam próximo à glândula e em alguns casos podem ser lesados durante a cirurgia. Quando a lesão do nervo ocorre dos dois lados, a impotência sexual é certa e a recuperação mais complexa. Na preservação bilateral dos nervos, a disfunção sexual costuma ser transitória e em média, após o primeiro ano a função erétil está recuperada. O cirurgião sempre tenta preservar estas estruturas, mas em alguns casos, para remover todo tecido afetado pelo câncer ele precisa seccionar o nervo.

Meu médico disse que estou curado do câncer, mas estou completamente impotente. E agora?

Reabilitação sexual precoce é a resposta. Significa ir voltando gradativamente a estimular o pênis no sentido de preservar a qualidade do tecido erétil e aumentar a chance de recuperar sua capacidade de ereção. Voltar a mexer no pênis, esticá-lo no banho e masturbar-se. Essas manipulações simples da genitália devem ser estimuladas.

Logicamente que para retornar a praticar a relação sexual se exige um tempo maior, é fundamental contemplar também a parte psicológica. Mas a preocupação aqui em estimular precocemente é preservar a estrutura do pênis. Os estudos mostram ainda que se nada for feito após a prostatectomia radical, a inatividade sexual e a ausência de ereções fisiológicas causam atrofia do pênis. Ele encurta e se torna mais fibroso.

Mas porque as ereções são tão importantes? Não estou nem pensando em sexo!

Os estudos realizados em pacientes submetidos ao tratamento do câncer da próstata através da cirurgia demonstraram que a recuperação da capacidade de ficar ereto é maior nos que iniciaram a reabilitação sexual precocemente. E utilizaram estratégias que permitissem uma ereção rígida o suficiente para a penetração. O interior do pênis possui estruturas especiais que proporcionam a capacidade de ficar ereto: os corpos cavernosos. São como sanfonas que esticam e encolhem. Sem ereções periódicas, as sanfonas atrofiam e perdem a capacidade de esticar e encolher. Daí a importância das ereções periódicas, mesmo antes de existir vontade de ter relações. Caso o médico fique aguardando o retorno do apetite sexual para iniciar a reabilitação, um tempo precioso terá sido perdido. Os resultados em termos de satisfação sexual no futuro serão piores.

Além da reabilitação, existem outros tratamentos?

A reabilitação foca na obtenção de ereções para preservar a qualidade do tecido erétil enquanto o restante (integridade dos nervos erigentes, libido, alegria, disposição entre outros aspectos) vai se recuperando com o tempo. Não podemos negligenciar o impacto psicológico do diagnóstico do câncer e da cirurgia em si.

Na reabilitação frequentemente utilizamos a combinação de medicação oral, medicação injetável e bomba peniana. Conforme a resposta clínica e adaptação individual, o médico vai gerenciando as diferentes modalidades de tratamento para atingir o objetivo final que é recuperar a vida sexual plena. Terapia combinada pode incluir a injeção e o uso da bomba peniana, a medicação oral em conjunto com medicação injetável e outras. Aqui vale muito a experiência de cada profissional e o trabalho em equipe multidisciplinar que certamente deve incluir o acompanhamento de psicólogo capacitado.

Tentei de tudo e continuo sem conseguir fazer sexo. E agora?

Quando todas as demais alternativas se mostraram ineficazes ou o paciente não obtém uma boa adaptação, podemos falar sobre os implantes penianos (próteses). Mas é sempre importante ressaltar o implante da prótese peniana não devolverá as ereções fisiológicas e não produzirá aumento do tamanho do pênis. A prótese irá substituir aquele tecido erétil, as sanfonas, por um material sintético.

Finalizo lembrando que a adoção de hábitos de vida saudáveis é a base de tudo. Como dito, a ereção do pênis depende de uma boa circulação de sangue e de uma comunicação efetiva entre o cérebro e o pênis e cuidar da saúde de maneira mais ampla é fundamental. Compreender que a atividade sexual não se limita a ereção é parte fundamental da reabilitação e experimentar a troca de prazer utilizando todo o corpo e todos os sentimentos facilitam a reabilitação após o impacto de ter recebido o diagnóstico de uma doença que assusta. Além do mais, namorar e alimentar o relacionamento desde sempre significa passo decisivo para o sucesso de qualquer protocolo de reabilitação, assim como contar com a ajuda e apoio da parceira ou parceiro faz muita diferença. Portanto, a mensagem final é: sempre há uma alternativa viável para a retomada da vida sexual plena quando essa é a vontade do homem!

Fonte: site Minha vida

Abrir