Estudantes são os que mais sofrem de bullying

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Muitos pais já tiveram que lidar com reclamações de filhos que recebem apelidos na escola, são zombados, discriminados e humilhados. A questão é que, muitas vezes, as agressões não são apenas verbais, podem se tornar cada vez mais violentas (física ou emocionalmente) e praticadas por um estudante ou um grupo deles: trata-se do bullying.
 

O problema envolve atitudes agressivas, intencionais e de maneira repetida, causando dor, angústia, alterações na autoestima e na autoconfiança de quem sofre o bullying, que se torna incapaz de se defender. Geralmente, as vítimas mais frequentes são jovens que fogem de certos “padrões” de estereótipo e/ou comportamentais:

  • Com excesso de peso ou muito magros;
  • Com nariz ou orelhas considerados maiores do que o normal;
  • Com cicatrizes de lábios leporinos (deformidade que acontece no céu da boca da criança causando fissura labial);
  • Espinhas em excesso;
  • Que usam óculos;
  • Portadores de deficiências físicas;
  • Coloração da pele e etnia, principalmente a raça negra;
  • Que tenham desempenho escolar superior e que se dedicam acima da média aos estudos – os apelidados de “nerds”;
  • Com trejeitos mais masculinizados ou afeminados;
  • Muito tímidos e retraídos;
  • Sem habilidade de defesa e de se impor.

 

Uma pesquisa promovida pela organização não-governamental Plan, chamada de “Bullying no ambiente escolar”, revelou que a maior incidência de maus tratos nas relações entre estudantes está na faixa etária de 11 a 15 anos, especialmente na sexta série do ensino fundamental.

 

Links
O que, exatamente, caracteriza o bullying
Quais as marcas que o bullying pode deixar na criança
Como os pais podem ajudar filhos vítimas de bullying
A violência no ambiente escolar

 

O que, exatamente, caracteriza o bullying

O bullying é uma palavra derivada do verbo inglês bully, que significa usar a superioridade física para intimidar alguém. De acordo com Cleo Fante, autora do livro “Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz”, o problema “é o conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais alunos contra outro(s), causando dor, angústia e sofrimento, e executadas dentro de uma relação desigual de poder, tornando possível a intimidação da vítima”.

Entre as agressões, estão:

  • Colocar apelidos;
  • Ofender, sacanear;
  • Risadas sádicas, irônicas;
  • Humilhar, discriminar; fazer sofrer;
  • Excluir, isolar, ignorar;
  • Cochichar, falar mal;
  • Intimidar, perseguir, assediar, aterrorizar, amedrontar;
  • Tiranizar, dominar, agredir, bater, chutar, empurrar, ferir, quebrar pertences, roubar.

Quais as marcas que o bullying pode deixar na criança

As marcas que o bullying deixa em cada vítima são mais emocionais do que físicas, exatamente, pois mexem com a autoestima e a autoconfiança. “Cada pessoa reage de uma maneira. Há casos de adultos que, ainda hoje, apresentam problemas psicológicos, pois não conseguiram superar os traumas sofridos na escola”, revela Lúcia Cavalcanti de Albuquerque Williams, professora titular do Departamento de Psicologia da UFSCar e coordenadora do Laboratório de Análise e Prevenção da Violência (Laprev).

Efeitos a longo prazo podem incluir:

  • Mau desempenho escolar;
  • Desinteresse em frequentar a escola;
  • Desatenção;
  • Transtornos alimentares;
  • Estresse pós-traumático;
  • Pesadelos;
  • Problemas com o sono;
  • Depressão;
  • Isolamento;
  • Autoflagelação;
  • Suicídio ou assassinato.

 

Como os pais podem ajudar filhos vítimas de bullying

O diálogo é a principal forma de os pais saberem o que pode está acontecendo na vida da criança. “Deve-s ouvir os filhos, seus sentimentos, emoções, valorizá-los sem superestimar. Procurar saber o que aconteceu na escola naquele dia, incentivá-los a contar as coisas boas e as ruins e demonstrar que estão dispostos a ajudar sempre, a encontrar caminhos alternativos”, orienta a autora Cleo Fante.

Também é preciso que os pais observem mudanças de comportamento na criança (como se isolar e recusar conversas ou se mostrar agressiva, apreensiva, como medo, não querer frequentar a escola, ter quedas no rendimento escolar etc). “Nos casos mais graves, pode acontecer de a criança apresentar dores de cabeça frequentemente, ter febre, vômito, diarreia ao se aproximar do horário do colégio”, observa Cleo.

“É importante conversar sem julgar e dar receitas, ouvir apenas, questionar por que o filho anda tristonho, permitindo que ele se abra com os pais. Ao tomar conhecimento dos fatos, é indicado informar a escola, que pode iniciar um trabalho pedagógico de conscientização, preventivo e educativo. Mudar de escola, simplesmente, não garante que o problema não volte a acontecer. Casos mais graves podem necessitar de ajuda profissional”, esclarece Lúcia Cavalcanti, da Laprev.

Sugerir que a criança enfrente ou rebata as agressões não é a melhor saída. O importante é que os pais a incentivem a ser mais assertiva, a olhar nos olhos da pessoa que pratica o bullying e dizer que não gosta de como é tratada e que não vai permitir que isto aconteça, sem demonstrar medo. Grupos de amigos também podem ajudar nos horários de aula, comentando que não acham graça na atitude do colega e, de certa maneira, tentando “proteger” a vítima, evitando deixá-la sozinha.

O melhor caminho é que os pais encorajem e apoiem os filhos sempre, ensinando a criança a encarar desafios, a serem cidadãos autônomos, enfrentando sofrimentos e dores. “Também é preciso trabalhar algumas pressões da sociedade, como os padrões de beleza, ensinando o filho a aceitar o que tem de bom, as característica pessoais, os cabelos, valorizando e transformando criança em uma pessoa mais segura”, explica Lúcia.

A violência no ambiente escolar

A pesquisa “Bullying no ambiente escolar”, promovida pela organização não-governamental Plan, revelou como a questão tem afetado o dia a dia dos estudantes nas cinco regiões do Brasil.

Por meio de entrevistas com alunos, professores, pais/responsáveis e gestores escolares – que envolveu mais de 5 mil estudantes em 25 escolas públicas e particulares nas cinco regiões do país – a pesquisa concluiu que a maior incidência de maus tratos nas relações entre estudantes está na faixa etária de 11 a 15 anos, especialmente na sexta série do ensino fundamental.

O bullying é mais comum nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, mas independe do sexo, raça ou classe social. Também foi identificado que os meninos se envolvem com maior frequência as situações de bullying do que as meninas, contudo estas se sentem mais tristes, chateadas e amedrontadas quando são as vítimas. Mais de 34,5% dos meninos pesquisados foram vítimas de maus tratos ao menos uma vez em 2009, sendo que 12,5% sofreram agressões com frequência superior a três vezes.

Quanto às consequências, as mais relatadas foram os prejuízos sobre o processo de aprendizagem, pois o aluno perde o interesse pelo ensino e não se sente motivado a frequentar as aulas. Os próprios alunos não conseguem diferenciar os limites entre brincadeiras, agressões verbais relativamente inocentes e maus tratos violentos.

Embora gestores e professores admitam a existência de uma cultura de violência pautando as relações dos estudantes entre si, a pesquisa “Bullying no ambiente escolar” apontou que as escolas não demonstraram estar preparadas para eliminar ou reduzir a ocorrência do bullying, nem para esclarecer aos alunos quais são os limites e as formas estabelecidas para que sejam respeitados por todos.